sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Segunda crónica - Mascate, capital do Omã



“Prometi na última crónica falar de Mascate. A cidade histórica recorda-nos o tempo em que esteve sob administração portuguesa , desde 1507 a 1650.
Os fortes de Jalali e de Mirani rodeiam hoje o moderno Palácio Real. A imagem do cartógrafo António Bocarro com a enseada , o porto de abrigo, a concha protegida pelos rochedos , é bem identificável, é impressionante a fidelidade. No fim da tarde com lua cheia com uma luminosidade turvada pela humidade gerada pelo calor intenso , Mascate é uma cidade das Mil e Uma Noites como se Sherazade tivesse contado mais uma história, esta sobre os portugueses companheiros de Afonso de Albuquerque.

Ontem tivemos a surpresa ao visitar Nizwa , cidade do interior onde os portugueses não estiveram. Surpresa de encontrar no forte da cidade um canhão com as armas portuguesas trazido certamente da costa e esse canhão tinha à sua volta a representação do colar do Tosão de Ouro e ao passarmos pela Mesquita de Barla , Anísio Franco lembrou bem que os gomos da cúpulas desta região estão representados nas guaritas da Torre de Belém ou não fosse esta construção de Francisco de Arruda , memória da conquista de Ormuz e da implantação do Império do Indico. Lá esta o Rinoceronte , Ganda, oferecido pelo Rei de Cambaia e enviado por Afonso de Albuquerque a Dom Manuel , Senhor da Pérsia e da Arábia. E como não lembrar também os gomos na nossa Quinta da Bacalhoa, graças à iniciativa do filho de Afonso de Albuquerque, Brás Afonso de Albuquerque.

Hoje , porém, o Sultanato de Omã projecta a sua história no futuro. A cidade moderniza-se, o turismo de qualidade é a grande aposta do Sultão , a investigação científica e a cooperação internacional estão na ordem do dia .
Dentro de 20 anos, a economia do petróleo ter-se-á esgotado, haverá gás natural, mas Omã prepara-se para as novas eventualidades.
Ao vermos uma porta manuelina no castelo de Mirani, ao lembrarmo-nos da decoração Torre de Belém, ao evocar a Arábia feliz e a Pérsia, ao recordarmos as vicissitudes da vida de Afonso de Albuquerque percebemos que a presença dos portugueses está em cada canto do mundo e lembramo-nos de que na outra costa do Mar Arábico , em Goa, está ainda a estátua de Afonso de Albuquerque, venerada pelos indo-portugueses apesar de tudo ter sido feito para apagar o seu exemplo da memória humana e ouvimo-lo : “ Mal com El-Rei por amor dos homens, mal com os homens por amor de El-Rei”.

Na próxima crónica falar-vos-ei de Ormuz , de Ormuz e de um grande encantamento!
Crónica de Guilherme d’ Oliveira Martins

Fotografia: CNC/Helena Serra

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